Texto de Walace Lara
Era uma quarta-feira. Meio chuvosa. Meio nebulosa. O clima estava a cara de São Paulo.
Os meus dias de férias estavam acabando. Já tínhamos viajado com um grupo de amigos para Fortaleza; já tínhamos ido para Poços de Caldas e Alfenas, no Sul de Minas.
E como estou passando por uma fase "paulistanês" decidi, junto com a minha família, aproveitar os últimos dias de descanso, nessa fantástica capital, que está se tornando a residência mais fixa de toda a minha vida (são oito anos morando aqui, um recorde para alguém que tem no sangue um dna nômade).
Naquela quarta, haveria um jogo do Santos na Vila Belmiro. Sabia que não era fácil convencer a minha mulher e o meu filho a descerem até a Baixada (moro num bairro perto da Imigrantes, mas o trânsito sempre desafia qualquer plano em São Paulo). Naquele dia, no entanto, sabe-se lá porque, estávamos muito animados.
Compramos o ingresso pela internet. O jogo era contra o Flamengo de Ronaldinho Gaúcho. Na chegada ao estádio, logo vimos que não éramos os únicos empolgados. A torcida aguardava ansiosa a volta do time - que se não me falha a memória, voltava da histórica conquista do tri-campeonato da Taça Libertadores.
A bola rolou. O ataque do Santos estava ligado a 220 por hora. Logo saíram os primeiros dois gols. Um deles, uma jogada muita rápida do artilheiro Borges.
O placar elástico para um começo de partida só animava a torcida. Os lugares que compramos ficava do lado esquerdo do ataque do Santos.
Em frente aquelas enormes "janelas" de vidro, que a diretoria instalou nessa parte do estádio. Você fica muito próximo a qualquer jogada.
De repente a bola cai no pé de Neymar. A torcida se levanta - um ritual que sempre acontece quando o "moleque" pega na bola. Um, dois, lá se vai o zagueiro Angelim. E o "moleque" sai na frente de Felipe, goleiro do Flamengo. Sem chance para a defesa. A bola entra...
Curiosamente, eu não ouço o grito da torcida. O estádio emudece. Durou cinco segundos. O tempo deu olhar de volta para a compra, a procura de alguma sinalização do árbitro. Será que valeu? Ele não fez nada de irregular? O bandeirinha não marcou um daqueles malditos impedimentos (que no passado, já nos tiraram um título...). E finalmente: Goooooooollllll...
Quando comecei a carreira no Mantiqueira, na página de Esportes, sempre algum repórter mais velho comentava comigo que determinado gol do Pelé, por exemplo, havia calado o estádio. Eu sempre achei isso um exagero. Como poderia um estádio ficar calado? Chorando (como no Maracanã na Copa de 50) talvez. Aos berros com o zagueiro, sempre. Ou xingando o árbitro? Ah isso, é quase natural (não é correto hein).
Esse jogo foi tão impressionante, que no final da partida, quando estávamos todos chateados pela maneira que terminou (a partida foi 5 a 4 para o Flamengo com um show de Ronaldinho Gaúcho), eu dizia para a minha mulher e o meu filho, numa tentativa de levantar o moral da tropa: "não esquentem, pensem que hoje nós vimos uma das maiores partidas do ano".
E abusando do futebolês (porque hoje tudo é permitido), eu ainda disse: "olha, só o gol do Neymar, valeu o ingresso".
E como valeu!!!!!
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