Cerca de cinquenta deficientes visuais da Associação de Assistência aos Deficientes Visuais (AADV) participam do projeto Acquativa, que tem Cibele Penido Pereira como empreendedora e professora.
Através do projeto é possível levar qualidade de vida diferenciada aos portadores de deficiência visual assistidos por Cibele. "Fazer natação aqui na AADV para mim foi ótimo. Eu tinha insônia e depois que comecei a hidroginástica nunca mais tive este problema", disse Vanira, que pratica as atividades na AADV duas vezes por semana. Eliana é outra beneficiada pelo projeto, com as atividades na piscina aquecida da AADV. Ela conta que a socialização que aconteceu através do projeto também é um diferencial na vida dos deficientes. "Este projeto deveria ter em todas as instituições, é muito saudável e só fez bem para minha saúde, todos colaboram num trabalho importante feito em grupo, é tudo de bom", disse ela. A reportagem conversou com Cibele que destacou todos os pontos da iniciativa.
Mantiqueira – Como foi feito este projeto na AADV?
Cibele Penido Pereira – Este projeto foi feito através da Lei de Incentivo à Cultura e tem como incentivador a Circullare, que contribui para a sua realização, cobre todos os gastos. O projeto foi aprovado em abril deste ano e é tudo muito novo. A piscina foi inaugurada em fevereiro e todos estão muito satisfeitos com as atividades dentro d´água.
Mantiqueira – Você já atuava com este tipo de atividade?
Cibele – Antes eu atuava aqui na instituição como professora de orientação e mobilidade e como a piscina havia sido reformada e coberta tive a ideia de fazer o projeto pela Lei de Incentivo. Sou formada em educação física e não vinha atuando na área e vi uma grande oportunidade de exercer minha profissão. O projeto foi aprovado e começamos em abril.
Mantiqueira – As atividades aquáticas atende que tipo de público?
Cibele – Atendemos crianças de cinco anos até adultos de 90 anos e as atividades são de hidroginástica, que atende mais o idoso, e a natação que tem um público composto mais por crianças e adultos. As atividades são trabalhadas de acordo com o interesse do aluno.
Mantiqueira – Quais as outras opões que vocês trabalham?
Cibele – Temos algumas crianças com dificuldade de aprendizagem e trabalhamos os jogos educativos. A própria natação é uma grande aliada da criança, proporcionando melhor percepção corporal, dando uma noção do espaço, além da parte da inclusão social. A natação é a opção mais indicada pelos especialistas para as atividades em grupo. Eles tomam conhecimentos das regras, planos de aprendizagem, técnicas, além de um direcionamento para o lado competitivo. Já a hidroginástica é trabalhada numa forma geral e por ser mais procurada pelos idosos visa a qualidade de vida além de melhoras de posturas, equilíbrio. Eles mesmo gostam muito de nos mostrar as evoluções em suas vidas e destacam que é tudo graças ao trabalho feito aqui na AADV. Muitos chegaram com dores nas costas, insônia, como a dona Vanira relatou para vocês, entre vários outros problemas.
Mantiqueira – Como são divididos os grupos de trabalho?
Cibele – Geralmente colocamos turmas pequenas com cerca de cinco pessoas, às vezes em duplas ou trio e fica mais fácil fazer o trabalho com eles. Nos grupos de hidroginástica, além do benefício físico e motor também tem o lado psicológico pois é trabalhada a socialização, provocando aumento da autoestima.
Mantiqueira – Existe a possibilidade deles participarem de alguma competição?
Cibele – Até pelo fato do nosso projeto ser recente, ter começado em abril, além de alguns fatores mais burocráticos, eles tiveram suas evoluções um pouco atrasadas. Temos o intuito deles participarem de competições, mas ainda não existe uma previsão de quando isso deve acontecer. O que todo mundo precisa saber e se conscientizar é que o portador de deficiência tem condições de fazer qualquer atividade com muita competência. Recentemente, aconteceu o mundial de natação paraolímpica e o Brasil ficou em quinto lugar. A natação trouxe 26 medalhas. Seria muito interessante para eles participarem de competições e a natação ainda tem a vantagem de ser uma atividade individual, não depende do coletivo e queremos sim participar de disputas. A AADV já tem experiência em campeonatos, pois tem o goolbal, também um projeto da Lei de Incentivo à Cultura, e queremos estender para outros esportes.
Mantiqueira – Como o aluno pode participar do projeto na AADV?
Cibele – É feito um processo de triagem. A pessoa que tem algum tipo de deficiência visual vem aqui, os técnicos fazem uma análise caso a caso e os selecionados passam a frequentar a instituição e a fazer as diversas atividades. Só pela Lei de Incentivo são três projetos, sendo dois na área esportiva e ainda um de música, coordenado pela professora Flávia. Temos ainda um apoio da prefeitura que disponibiliza professores e da própria entidade. É uma boa parceria.
Mantiqueira – Qual a maneira mais fácil de ensinar uma atividade para um deficiente visual?
Cibele – Geralmente as pessoas que enxergam acompanham uma aula através da demonstração do professor e acompanham o ritmo dos alunos. Para os alunos que não enxergam nada, primeiramente é feito um trabalho fora da água, mostramos como será o movimento e eles decoram muito rápido. Dentro da água eu faço a orientação do movimento que eles têm que fazer e eles acompanham. Na hidroginástica, as aulas para as pessoas que têm certa visão são feitas por repetições, enquanto que na natação é por tempo, para respeitar o ritmo de cada um. Vale ressaltar que trabalhamos com deficientes totalmente cegos e outros com baixa visão.
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