quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Deficientes visuais fazem atividades aquáticas na AADV

Cerca de cinquenta deficientes visuais da Associação de Assistência aos Deficientes Visuais (AADV) participam do projeto Acquativa, que tem Cibele Penido Pereira como empreendedora e professora.
Através do projeto é possível levar qualidade de vida diferenciada aos portadores de deficiência visual assistidos por Cibele. "Fazer natação aqui na AADV para mim foi ótimo. Eu tinha insônia e depois que comecei a hidroginástica nunca mais tive este problema", disse Vanira, que pratica as atividades na AADV duas vezes por semana. Eliana é outra beneficiada pelo projeto, com as atividades na piscina aquecida da AADV. Ela conta que a socialização que aconteceu através do projeto também é um diferencial na vida dos deficientes. "Este projeto deveria ter em todas as instituições, é muito saudável e só fez bem para minha saúde, todos colaboram num trabalho importante feito em grupo, é tudo de bom", disse ela. A reportagem conversou com Cibele que destacou todos os pontos da iniciativa.
Mantiqueira – Como foi feito este projeto na AADV?
Cibele Penido Pereira – Este projeto foi feito através da Lei de Incentivo à Cultura e tem como incentivador a Circullare, que contribui para a sua realização, cobre todos os gastos. O projeto foi aprovado em abril deste ano e é tudo muito novo. A piscina foi inaugurada em fevereiro e todos estão muito satisfeitos com as atividades dentro d´água.
Mantiqueira – Você já atuava com este tipo de atividade?
Cibele – Antes eu atuava aqui na instituição como professora de orientação e mobilidade e como a piscina havia sido reformada e coberta tive a ideia de fazer o projeto pela Lei de Incentivo. Sou formada em educação física e não vinha atuando na área e vi uma grande oportunidade de exercer minha profissão. O projeto foi aprovado e começamos em abril.
Mantiqueira – As atividades aquáticas atende que tipo de público?
Cibele – Atendemos crianças de cinco anos até adultos de 90 anos e as atividades são de hidroginástica, que atende mais o idoso, e a natação que tem um público composto mais por crianças e adultos. As atividades são trabalhadas de acordo com o interesse do aluno.
Mantiqueira – Quais as outras opões que vocês trabalham?
Cibele – Temos algumas crianças com dificuldade de aprendizagem e trabalhamos os jogos educativos. A própria natação é uma grande aliada da criança, proporcionando melhor percepção corporal, dando uma noção do espaço, além da parte da inclusão social. A natação é a opção mais indicada pelos especialistas para as atividades em grupo. Eles tomam conhecimentos das regras, planos de aprendizagem, técnicas, além de um direcionamento para o lado competitivo. Já a hidroginástica é trabalhada numa forma geral e por ser mais procurada pelos idosos visa a qualidade de vida além de melhoras de posturas, equilíbrio. Eles mesmo gostam muito de nos mostrar as evoluções em suas vidas e destacam que é tudo graças ao trabalho feito aqui na AADV. Muitos chegaram com dores nas costas, insônia, como a dona Vanira relatou para vocês, entre vários outros problemas.
Mantiqueira – Como são divididos os grupos de trabalho?
Cibele – Geralmente colocamos turmas pequenas com cerca de cinco pessoas, às vezes em duplas ou trio e fica mais fácil fazer o trabalho com eles. Nos grupos de hidroginástica, além do benefício físico e motor também tem o lado psicológico pois é trabalhada a socialização, provocando aumento da autoestima.
Mantiqueira – Existe a possibilidade deles participarem de alguma competição?
Cibele – Até pelo fato do nosso projeto ser recente, ter começado em abril, além de alguns fatores mais burocráticos, eles tiveram suas evoluções um pouco atrasadas. Temos o intuito deles participarem de competições, mas ainda não existe uma previsão de quando isso deve acontecer. O que todo mundo precisa saber e se conscientizar é que o portador de deficiência tem condições de fazer qualquer atividade com muita competência. Recentemente, aconteceu o mundial de natação paraolímpica e o Brasil ficou em quinto lugar. A natação trouxe 26 medalhas. Seria muito interessante para eles participarem de competições e a natação ainda tem a vantagem de ser uma atividade individual, não depende do coletivo e queremos sim participar de disputas. A AADV já tem experiência em campeonatos, pois tem o goolbal, também um projeto da Lei de Incentivo à Cultura, e queremos estender para outros esportes.
Mantiqueira – Como o aluno pode participar do projeto na AADV?
Cibele – É feito um processo de triagem. A pessoa que tem algum tipo de deficiência visual vem aqui, os técnicos fazem uma análise caso a caso e os selecionados passam a frequentar a instituição e a fazer as diversas atividades. Só pela Lei de Incentivo são três projetos, sendo dois na área esportiva e ainda um de música, coordenado pela professora Flávia. Temos ainda um apoio da prefeitura que disponibiliza professores e da própria entidade. É uma boa parceria.
Mantiqueira – Qual a maneira mais fácil de ensinar uma atividade para um deficiente visual?
Cibele – Geralmente as pessoas que enxergam acompanham uma aula através da demonstração do professor e acompanham o ritmo dos alunos. Para os alunos que não enxergam nada, primeiramente é feito um trabalho fora da água, mostramos como será o movimento e eles decoram muito rápido. Dentro da água eu faço a orientação do movimento que eles têm que fazer e eles acompanham. Na hidroginástica, as aulas para as pessoas que têm certa visão são feitas por repetições, enquanto que na natação é por tempo, para respeitar o ritmo de cada um. Vale ressaltar que trabalhamos com deficientes totalmente cegos e outros com baixa visão.

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