Alguns jogadores marcam época e se tornam eternos ídolos de suas torcidas e sua imagem acaba vinculada a determinado clube. O zagueiro Paulista é um destes casos. Impossível não lembrar das atuações seguras dele na zaga da Caldense. Paulista fez parte do time campeão mineiro em 2002, que acabou sendo o principal de sua vitoriosa carreira. O jogador é um dos que mais vezes vestiu as cores da Caldense. Em 12 anos de clube ele passou por todas as categorias, do pré-mirim ao profissional, e atuou em 10 campeonatos mineiros, além do Brasileiro, da Seletiva para a Sul Minas, do Supercampeonato Mineiro, entre outros. O atleta participou de 304 partidas defendendo a Caldense e fez gols importantes, como o da vitória diante do América Mineiro em BH no Supercampeonato Mineiro, que colocou o time na decisão contra o Cruzeiro. Paulista ainda conseguiu a façanha de ser ídolo também da torcida do Poços de Caldas FC, time que defendeu ano passado. Além das duas equipes locais, ele vestiu as cores de União São João de Araras, Vila Nova de Goiás, CRB de Alagoas, Grêmio de Maringá, Mogi Mirim, Vila Nova de Nova Lima, América de Belo Horizonte, Ipatinga, Uberaba, Unitri, Democrata de Sete Lagoas, Atlético Tricordiano, Itapirense, Itaúna, entre outros.
Mantiqueira – Sua história dentro do futebol começou quando?
Paulista - Em 1992, com 17 anos, quando cheguei na Caldense, a concentração ainda era na rua Itabira. Ali aprendi muitas coisas da vida. A Caldense é parte da minha história, um clube muito importante. Sempre vesti com orgulho essa camisa e acabei sendo reconhecido tanto pelos dirigentes quanto pela torcida e isto para mim é uma grande honra. A Caldense me abriu portas e depois acabei atuando por 18 equipes, mas fiquei marcado por vestir a camisa da Caldense tantas vezes.
Mantiqueira – Destas 304 partidas, existe alguma especial?
Paulista – Pela sua importância, o jogo diante do Nacional em 2002, quando fomos campeões, é o mais marcante. Me lembro de toda a campanha, foi muito difícil, chegamos ao estádio duas horas da tarde e vimos aquele lugar entupido de gente, foi de arrepiar. Chego ainda a sonhar com aquele jogo, lembrando quando o juiz apitou o final e a gente havia vencido por 2x0, a torcida invadindo o campo, a gente andando no caminhão do Corpo de Bombeiros, a grande amizade que se criou dentro do grupo, a união entre todos daquela equipe e a imprensa, o torcedor, diretoria. Tudo isto culminou neste título que marcou a todos na Caldense, na cidade e, principalmente a mim que nasci para o futebol naquele time, nas categorias de base. Nos meus melhores sonhos aquele dia sempre tem a certeza de que foi um dia muito especial em minha vida.
Mantiqueira – As amizades daquela época continuam até os dias de hoje?
Paulista – É muito difícil criar vínculos de amizade dentro do futebol. O dia-a-dia dificulta tudo, é muito corrido. Hoje você está aqui, depois ali e é complicado. Eu tenho muita amizade com o Gustavinho, que é da cidade, o Gilberto, o Clayton Arrabal. Tenho certeza que todos daquele grupo sempre vão querer bem um ao outro, pois foi uma conquista muito sofrida, muito difícil. As vitórias foram conquistadas pelo grupo às custas de muita dedicação de todo mundo.
Mantiqueira – Quando você viu que daria para ser campeão daquele Mineiro?
Paulista – Quando a gente foi jogar em Andradas diante do Rio Branco. Aquele dia o grupo demonstrou ser guerreiro e o clima era tão bom que na ida para Andradas já tínhamos certeza da vitória. Foi uma semana de concentração, houve muito auxílio do psicólogo Gilmar Galo e eu tinha certeza que a gente não sairia de Andradas sem a vitória. Realmente, vencemos o jogo que foi uma verdadeira batalha e o título acabou vindo pouco depois.
Mantiqueira – Você teve a experiência pouco antes do final de sua carreira de jogar no Poços de Caldas, rival da Caldense, e acabou também tendo uma afinidade grande com a torcida deste time. Como você vê isso?
Paulista – Foram fases distintas da minha vida profissional. Quando sai da Caldense passei por algumas equipes antes de ir para o Poços de Caldas. Jogar neste time para mim foi gratificante. Era minha vontade voltar a jogar em Poços de Caldas, onde eu estaria mais perto de minha família, e surgiu a oportunidade de ir para o Vulcão. Tive uma grande satisfação de jogar para o Poços de Caldas, sabendo que o time foi formando recentemente e já tinha uma grande torcida na cidade. Agradeço muito as pessoas que me deram esta oportunidade e vai ficar na minha história ter sido jogador pelos dois times de Poços. Minha consciência é tranquila porque em todos os times em que passei sempre procurei fazer o melhor.
Mantiqueira – Que diferenças existem em jogos de módulo I e módulo II?
Paulista – O que pesa bastante é a própria mídia, que foca sempre mais nos times que estão na primeira divisão. Eu disputei pelos dois campeonatos e vi que de uns anos para cá cresceu o interesse pelo módulo II. Para um jogador que está disputando um módulo II o sentimento de ajudar seu time subir para o módulo I é muito bom, uma boa sensação. Tive a oportunidade de subir duas vezes, uma com o Uberaba e outra pelo Tricordiano, que subiu da terceira para a segunda divisão.
Mantiqueira – Você se espelhou em algum grande jogador?
Paulista – Por ser zagueiro a gente começa a analisar e sempre gostei muito do estilo do Adilson Batista, hoje técnico do Corinthians. Ele tinha uma técnica muito boa, apesar de não ter defendido muito a seleção brasileira, mas sempre o tive como um espelho. Eu tive a felicidade de trabalhar com ele depois que deixou de jogar e tornou-se técnico e eu passei a admirá-lo mais ainda. É um grande profissional, uma pessoa que admiro muito.
Mantiqueira – Que treinador você destaca dentre os muitos com quem trabalhou?
Paulista – O principal para mim é o Zezito, que foi com quem trabalhei o maior tempo de minha carreira. Sempre tive bom relacionamento com todos os outros. Me dei bem com o Walter Ferreira, que foi campeão aqui na Caldense junto com o Zezito, o Adilson Batista que já citei, enfim, tive a oportunidade de trabalhar com grandes técnicos, como Vantuil Rodrigues, Vantuir Galdino, Cassiá, Mazinho, Carbone, Ailton Lira, que foi o técnico que me deu a primeira oportunidade, Zé Maria Pena, além do meu amigo Marcos Vinícius, o Marcão.
Mantiqueira – Que projetos você tem agora que encerrou a carreira de atleta profissional?
Paulista – Estou num novo projeto junto com meu amigo André Oliveira, da TV Poços, e o Sérgio, presidente da Coopoços, e estamos formando uma nova escola de futebol na cidade. A escolinha vem forte sendo uma franquia da escolinha do Zico, ídolo do Flamengo. Este projeto está me motivando bastante e é uma nova fase da minha vida. Posso dar a certeza que vou oferecer o meu melhor e ensinar para a garotada um pouco do que aprendi nos anos que joguei futebol. Este projeto está sendo viável graças ao importante apoio da Secretaria Municipal de Esportes. Tanto o Lelo, quanto o Sérgio da Coopoços nos ajudaram bastante a viabilizar tudo. O Lelo tem uma grande visão, até mesmo por ter sido jogador profissional na Caldense, e eu o admiro bastante. O Lelo e Sérgio se juntam a várias outras pessoas que me abriram portas e para honrar o crédito que nos deram vamos procurar fazer um trabalho digno. Vamos trabalhar com crianças e precisamos da confiança dos pais. Não vamos decepcionar ninguém.
Mantiqueira - Você tem a pretensão de um dia ser técnico de futebol?
Paulista – Hoje sinceramente me sinto preparado para este novo projeto, que é um novo desafio. Poderia até almejar coisas maiores mas creio que o que Deus preparou para mim foi este novo projeto. Se amanhã ou depois eu demonstrar capacidade de vida para alçar novos rumos quero estar preparado. Não vou queimar etapas e o meu prazer neste momento é realizar este sonho, este novo projeto, pois sei que posso passar para os meninos muito do que eu vivi no mundo do futebol.
Mantiqueira – Você era um grande zagueiro. Tinha a função impedir o gol. Você vai ter um estilo de ensinamento mais defensivo ou vai priorizar a busca pelo gol?
Paulista – Minha preocupação inicial será passar para os meninos uma base de fundamentos, que é o que acho que o garoto que quer seguir no futebol vai precisar mais. Mas a preocupação não gira nem tanto em procurar desesperadamente novos valores mas uma contribuição em ajudar a formação do jovem como cidadão. Esta é a proposta da Coopoços e do Lelo e tanto eu quando o André vamos manter esta linha. Eu sempre me considerei um jogador técnico e vou priorizar a ofensividade. É perfeitamente possível manter um time que defende bem e ao mesmo tempo é perigoso no ataque. Vou usar deste equilíbrio nas minhas equipes.
Mantiqueira – Quem foram seus principais parceiros durante sua carreira?
Paulista – O primeiro de todos foi Deus, que nos momentos mais difíceis sempre esteve do meu lado. Em contrapartida, nos melhores momentos de minha vida pude engrandecer e exaltar este mesmo Deus através do meu trabalho e do meu testemunho. Não posso esquecer de minha família, sempre do meu lado, meus amigos, torcedores de todas as equipes que joguei, imprensa, dirigentes, tanto de Caldense quanto do Vulcão, que sempre acreditaram em mim e me deram oportunidades. Meu sentimento é de gratidão pois foi através do futebol que me tornei uma pessoa realizada.
Quero agora dar sequência fazendo um pouco do que aprendi ensinando uma nova geração e quem sabe fazer todos vencedores da vida e se possível dentro do esporte.
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