quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Projeto leva capoeira para alunos da Vila Togni

A capoeira é uma expressão cultural afro-brasileira que mistura luta, dança, cultura popular e música, desenvolvida no Brasil pelos escravos e descendentes, conhecida atualmente no mundo todo. Em Poços de Caldas, vários mestres e alguns projetos sociais tentam mostrar, principalmente para o jovem, que esta arte não deve ser esquecida. A reportagem conversou ontem com João Batista Sena, o mestre Banana, que contou um pouco do trabalho desenvolvido na escola Sérgio Freitas Pacheco, na Vila Togni, onde ensina crianças e adolescentes.
Mantiqueira - Como é seu trabalho com as crianças em Poços de Caldas?
João Batista Sena - Estamos trabalhando dentro do Projeto de Incentivo à Cultura Estadual e somos patrocinados pela PoçosTec. Hoje trabalho com os alunos da escola Sérgio de Freitas Pacheco, aproximadamente 50 crianças. As aulas são ministradas às segundas, quartas e sextas-feiras das 17h30 às 18h30. Neste horário o projeto atende crianças e adolescentes da escola. Dou aulas ainda para a comunidade da Vila Togni das 19h30 às 20h30.
Mantiqueira - Como será o evento especial programado ainda para este ano?
João Batista Sena – Neste final de ano, mais precisamente nos dias 23 e 24 de outubro, teremos um grande evento na cidade. Será realizado um curso especial para as crianças do projeto no período da manhã e para os adolescentes à tarde. Dia 24 acontece o batizado de cordas para as crianças e depois o campeonato infantil. Estamos esperando a participação de cerca de 300 crianças nesta competição. Estes eventos acontecem no ginásio Romeu Cagnani.
Mantiqueira – Quantos profissionais trabalham neste projeto?
João Batista Sena – Eu conto com a ajuda do contramestre Eduardo Sena, Du, o instrutor Fernando Magalhães Silva, o Tropeço, além do aluno Gabriel que nos dá uma força nos trabalhos.
Mantiqueira – Conte um pouco da história e origem da capoeira no Brasil.
João Batista Sena – Apesar de a maioria dizer que a capoeira é de origem afro-brasileira, para mim ela é totalmente brasileira. O gingado, as danças vieram com as tribos africanas, mas foi no Brasil que se transformou numa arte marcial e, mais difundida, ganhou notoriedade no mundo todo. O ritual de dança que veio da África tomou conta das senzalas. Hoje a capoeira é considerada um esporte com competições, com regras definidas e um grande número de adeptos. Em Poços de Caldas a gente organiza campeonatos. Eu prefiro trabalhar mais com categorias infantis.
A capoeira visa principalmente à formação do cidadão e por isso a necessidade de trabalhar com jovens. Além de ser um esporte, é uma cultura, enfim, um mesclado que a torna a arte marcial mais completa que existe.
Mantiqueira – Como é uma competição de capoeira?
João Batista Sena – Temos vários movimentos durante uma competição. São cinco modalidades. No combate existe contato físico com regras definidas. Para se ter uma um ideia como funciona a pontuação, uma rasteira vale dois pontos, durante a roda de capoeira se o participante colocar o pé fora da faixa perde pontos e assim por diante.
Mantiqueira – A capoeira é uma arte marcial de ataque?
João Batista Sena – É extremamente defensiva. Na verdade a capoeira é uma dança acrobática e acaba sendo mais famosa pela parte folclórica do que pelas lutas. Para participar de uma roda de capoeira a pessoa precisa estar em muito boas condições físicas. É preciso uma preparação muito boa para realizar as acrobacias e uma pessoa acima do peso não consegue fazer com facilidade. Claro que em toda regra há exceções, mas normalmente tem que estar fisicamente muito bem preparado.
Mantiqueira – Em Poços, existe apoio para a capoeira?
João Batista Sena – A prefeitura apoia bastante, não financeiramente, mas dando condições e estrutura para trabalharmos. Todo ano conseguimos apoio da prefeitura para realizarmos o Mega Encontro de Capoeira na cidade. Conseguimos trazer muita gente neste evento. Recebemos de 8 a 10 mestres de renome mundial que fazem palestras. Acho que a capoeira, por ser uma arte nossa, nascida no Brasil, deveria ser mais valorizada por parte do empresariado, mas isso por enquanto não acontece.
Mantiqueira – Quem é referência hoje no Brasil?
João Batista Sena – O Grupo Abadá é hoje o maior do Brasil. Este grupo é originário do Rio de Janeiro mas tem representantes no mundo todo. Mas temos muitos grandes segmentos dentro da capoeira, pessoas respeitadas e fica até complicado citar todas.
Mantiqueira – A capoeira que nasceu no Brasil é conhecida no mundo todo?
João Batista Sena – Muito, aliás esta cultura chega a ser mais respeitada no exterior do que aqui em sua casa. Hoje no Brasil o jovem quer aprender golpes, dar mortais, chutar, pular, enfim, dominar as acrobacias. Não existe um interesse em conhecer a história da capoeira, a origem ainda na época dos escravos. Fora do Brasil a primeira coisa que o aluno quer saber é de onde veio a capoeira, o que é. Só depois de se saber tudo é que ele vai aprender a praticar e jogar. Fora do Brasil é preciso o mestre ensinar ao aluno toda a parte didática. Um mestre de capoeira é tratado com doutor, tamanho é o respeito, enquanto no Brasil existem pessoas que misturam capoeira com religião e chegam a difamar a arte marcial por pura falta de conhecimento. A Europa vem se tornando uma força dentro da capoeira mas não chega a fazer frente com o Brasil.
Mantiqueira – O Brasil exporta mestres e praticantes?
João Batista Sena – Muitos. O mestre que sai do Brasil para ensinar a capoeira em outro lugar fala em português e não o idioma do local em que está. É o aprendiz estrangeiro que precisa aprender nossa língua para depois ter contato com a nossa capoeira. É a única cultura que preserva realmente a sua origem.

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